segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Das coisas que o tempo leva e deixa saudades

Há mais ou menos 9 anos - posso ter errado a conta e aí já se vai uma década - existe um dia do ano em que tudo é lindo, em que o dia passa e a gente não quer que termine, em que as pessoas ficam fazendo horas para ir pra casa e esse momento é sempre com lamento. Há um dia do ano em que minha vida é cheia de graça, de risos, de abraços respirados, de bobices, de comidinhas, de vento, de carinho, de presentinhos, de colo, de desfrute. Daí que esse dia chegou, num dos anos mais difíceis pra mim, e eu esperava que ele fosse um respiro, um golpe de ar em meio ao sufoco. Esse dia foi ontem e ele terminou com um vazio.
O dia começa sempre algum tempo antes do dia em si. Começa com trocas intensas de emails para decidir a data, o local, os comes, os bebes e o presente - porque nós brincamos com o presente definido, todo mundo ganha o mesmo tipo de presente; um exercício de sempre redescobrir o outro e traduzi-lo num objeto. São emails de planejamento de um amigo oculto, o amigo oculto do grupo da Bio*. Um grupo de pessoas lindas que sabem o que é entrega, um grupo com quem compartilhei as piores e as melhores sensações e sentimentos, um grupo plural e tão cheio de amizade e carinho. O amigo oculto se transformou num ritual importante para celebrarmos a resistência ao tempo e às atribulações da vida adulta que nos afasta no cotidiano. Há uns 6 anos, eu acho, nós não nos encontramos mais às quartas-feiras para partilhar momentos de pura intimidade, o tempo do nosso grupo de Bio, com as aulas de Bio, acabou. Desde então, o dia do amigo oculto tornou-se ainda mais importante.O amigo oculto é então, na verdade, um processo que dura ao menos uns 2 meses. Começamos a trocar antes, no dia e depois. E isso nos preenche até o próximo ano quando tudo começa de novo.
Ontem foi o amigo oculto e tudo terminou com um lamento, uma melancolia. Uma sensação de que alguma coisa não estava lá, uma sensação de que faltou, como se um buraco estivesse ali. As pessoas chegaram, ninguém organizou bem os comes e bebes, a troca de emails teve até bronca pq quase nada se trocava, teve gente que faltou, metade do grupo foi logo embora pq tinham outros compromissos, teve gente que não conseguiu falar, teve gente que gostou do presente, mas poderia trocá-lo sem problemas sem motivos seus. Uma sensação de que era melhor ter visto o filme do Pelé. Teve risos, teve abraços, teve papo solto, mas não teve entrega - aquela magia que diferenciava o nosso amigo oculto dos outros.
E aí que fiquei pensando se isso não era culpa do tempo, que teima em levar as coisas embora e deixar a saudade no lugar. Fiquei pensando que a nossa resistência tinha diminuído e em algum momento baixamos a guarda e quando nos demos conta o "pluft" já tinha passado. Será o tempo? Será nossa memória que começou a falhar e a gente começou a se esquecer do que é compartilhar?
Sei que deixou um vazio com ares de saudade.

*Bio é uma abreviação carinhosa de Biodanza

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Medo, dos grandes - outro post diarinho

Quando 2012 acabou, eu dei "Ufa! Já vai tarde.". Foi um ano que passou sem trazer maiores surpresas, boas e más, mas foi um ano chato, difícil de se lidar e que se arrastou. Tipo visita chata em casa, sabe?! Este ano começou mal, passou mal. Uma ou outra flor brotou aqui e ali, mas foi mesmo um ano árido. Nunca me senti tão esgotada de energia ao longo de um ano como esse. Pois bem, dezembro tá aqui, né?! E aí? E aí, que junto com ele veio um medo, dos grandes, dos gigantescos, de que tudo possa acabar ainda pior que o ano inteiro. No reino do talvez, o tempo vira rápido e tempestade grossa não se acanha em chegar. Cá estou, carregando este medo bisonho e pesado nas costas, seguindo deslocada como criança que calça sapato da mãe. Medo, dos grandes, de que logo logo comece a chover.