terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Apego

Agora que sei quando vou partir, sei também que meu apego é maior que a Lua cheia.
Dói.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Porre de melancolia: iogurte ao invés de jantar; olhos fechados no banho; camisola sem calcinha; Maria Bethânia na rádio uol; a busca por algo de útil pra fazer; choro escondido. Vontade de ficar suspensa no ar.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Cabo de força

Duas fortalezas que se cruzam e se chocam. Um tremor imenso de terras.
Dois andarilhos que se juntam numa dança - o andar sobre o mesmo eixo.
Um salto ornamental numa piscina de plástico e um pulo com boias no mar.
Todo risco, toda imprevisibilidade, toda distância traz a proximidade.
Quem dera o vento soprasse sempre no meu rosto. Quem dera eu pudesse bailar com ele.
Quem dera a gente soubesse se deixar levar, deixar ser, deixar estar.
Ao invés disso, cabo de força.
Movimento de rotação.
Terezinha de Jesus e o terceiro cavalheiro.
A torcida de um braço que ficou na garganta, a escolha como um escudo de vidro e um lamento de dor.

Desvio

Eu podia ter mentido, mas gosto de liberdade. E pra quem conheceu pouco os grilhões da culpa, a mentira é quem mais acorrenta. Por isso, o alívio da verdade.
Eu podia ter seguido as regras, mas as exceções às vezes correspondem tão melhor a minha realidade. E pra quem desde sempre teve que reescrever a própria história, o desvio é regra. Por isso, a displicência.
Eu podia me desesperar, mas é que a maturidade emocional tá aqui. E pra quem desde o primeiro amor aprendeu a sofrer, a possibilidade da perda é um a priori. Por isso, a serenidade.
Eu podia renegar meus desejos, mas minha filosofia de vida é contra a autoviolência. E pra quem é consciente de todo o processo de repressão, o princípio do prazer é um imperativo.



*Dos guardados.

Caderninho de anotações

Daí que em 2011 comprei um caderninho de anotações e fiz de agenda telefônica  porque as agendas custavam uma fortuna. Daí que usei ele pra tudo. Daí que encontrei uma anotação que não é minha e que deduzo o autor pela letra, mas não lembro como foi parar lá e nem porquê. Daí que virou poesia esbarrar com isso num dia comum.

****

Assim como os pássaros migram para a Argentina, o sol se levanta a cada dia, principalmente quando comemos feijão e não escovamos os dentes!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Ih, ficou picante!

Depois de 3 anos de flores, o Contato resolveu ficar arretado. Primeiro o blog nasceu com a simplicidade e beleza leve das margaridas, aquela que levou Fausto a fazer pacto com o querido Mefistófeles. Depois resolveu mudar para a embriaguez da flor do ópio. E agora, resgatando as minhas raízes de povo quente - Você já foi a Bahia, meu bem? Não? Então, vá! Lá tem... -, tasquei-lhe pimenta para tudo quanto é lado. O quarto ano de vida desse cantinho aqui começa anunciando que quero contatos picantes, calientes por demais. Porque é bom um quentinho gostoso, um sabor de fazer o corpo todo reagir.

E nesse clima de toda-cheia-de-si, fica aí uma apresentação arretada da gente, Contato e moi.









*Ah! As flores ainda estão no rodapé.

Dezembro

Dezembro começou com um medo dos grandes, que se dissolveu como espuma. Da iminência de com tudo acabar, só acabou mesmo foi com o ano. Dezembro de cuidados, de amor, de calma, de serenidade e de pequenos acertos. Dezembrou bem, como um tango nordestino - prometeu exigência e apresentou malemolência. E terminou com um post it de amor...

Ano Novo - uma mensagem clichê

Quando me despedi de 2012 e dei boas-vindas a 2013, fui ingrata com 2012 e joguei tantas expectativas para 2013 que se o ano velho tivesse boca teria dado uma bela gargalhada da minha cara depois de dizer "Coitada! Mal sabe o que a espera!". E foi assim que 2013 foi o ano mais difícil que já vivi, tão difícil que já me lembro de 2012 como um ano super leve - outro dia me peguei pensando "De que diabos eu reclamava de 2012?". Passei a semana da virada refletindo sobre isso, dando algumas voltas na minha cabeça para tentar inverter esse ciclo vicioso absurdo que a gente entra. Minha tentativa: uma mensagem clichê + uma forcinha do Drummond.

******
Ano Novo, para pintar

Todas as expectativas do mundo, exceto as dos chineses, comparecem no mesmo dia e na mesma hora local. A contagem regressiva anuncia o lançamento de todo anseio, de toda expectativa, de todo furor e de uma boa dose de coragem. Estão todos reunidos ali, no momento em que um novo ciclo começa. O Ano Novo que se aproxima os evoca. E ele sempre aparece assim, com letras maiúsculas porque este é seu nome próprio.

Eis que ele, Ano Novo, chega. Mas as expectativas que jogamos sobre ele são um erro infantil. Tão infantil que elas se desvanecem já no primeiro mês. Mais ainda, chegamos ao final com a arrogância de avaliar o que o ano fez de bom ou não. Ora, o que é o tempo, presente e futuro, senão uma tela em branco? Devemos pintá-lo, escrever a nossa história, cruzar com outras, colaborar com parceiros e, sobretudo, convocar a coragem para realizarmos todas aquelas expectativas e assim transportá-las à tela.

O Ano Novo chega vazio, sem pretensões, mas aberto ao devir. Ele vem com o vento, leve, firme e seguro. E sempre nos convida a levantar a poeira, bagunçar a vida, dá voltas para vermos as coisas de ângulos diferentes, passear por outros mundos, voltar intempestivamente, soprar... Mas isso é sempre um convite, uma provocação, não mais que isso.

Aceite a provocação do novo, ocupe seu espaço na tela do tempo e pinte com o vento!
Ano Novo para ser feliz!


*****

Receita de Ano Novo

(Carlos Drummond)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens? passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


****

2014 começou assim, leve, calmo e aberto.
Previsões, só até o carnaval.
Desejos, só o de seguir.
Realizações, as que puderem existir.
Expectativas, só a de mudança.