quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Coisas bonitas

Queria escrever coisas bonitas hoje. Porque queria lembrar que agora a dor já acalmou, que a apatia parece se converter em calmaria e que eu pareço seguir por um caminho de múltiplas possibilidades. No entanto, algo segura meu punho e os dedos parecem ter esquecido as letras que revelam beleza. Alguma coisa ainda está aqui.

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Porque um dia ganhei essa música de presente e isso já faz 13 anos, mas ainda tão viva em mim.





Árvores tortas

Alguém por aí me contou um sonho. Nele, uma árvore que na realidade é torta e o incomoda, estava reta tanto quanto uma árvore pode ser. Quando ele me contou o sonho respondi prontamente que ele podia ver beleza no fato da árvore se erguer na direção improvável. Ele respondeu prontamente que isso era uma possibilidade, mas que podia pensar também sobre a necessidade de se atribuir um sentido naquilo tudo. Calei.

Vivendo a vida, comecei a reparar nas árvores. Diabos! Vivemos numa floresta urbana de árvores tortas. Tanto que comecei a me questionar se existia de fato árvores retas. Aí depois lembrei de pinheiros, araucárias, palmeiras e outras que não sei o nome. Mas achei mesmo que elas, na verdade, não são a regra. Mas esse mundo é tão vasto e minhas pernas são tão curtas...

Quando calei, pensei que eu era mesmo uma árvore torta, se erguendo na direção improvável. Pensei que ele, na verdade, também. E fiquei me perguntando o quanto é difícil às vezes aceitar quem a gente é e se permitir ver beleza nisso. Passei a maior parte da vida querendo ser mais alta, mais gorda, mais extrovertida, mais transparente, mais valentona, mais bonita, mais independente, mais mulher. E independente de tantos desejos sobre que direções eu gostaria de me erguer, me ergui atravessando todos esses desejos. De fato, sou uma árvore tortíssima! E, ainda hj, às vezes desejo ser menos torta. Mas tenho a impressão que seria infeliz.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Uma tigresa

Da mulher de duas faces eu nada sei.
Porque não podem acusá-la de mentirosa, de falsa,
quando a mulher como a querem - meio boneca de uma face só, de sorriso largo -
só pode existir no artifício plástico.

Tampouco, pode ser ela de um só desejo.
Porque cada ponto do grelo é uma provocação pertinente a muitas partes,
a muitos sonhos.

Da docilidade ou da ferocidade, há de ser mulher
múltipla e verdadeira.

E, sendo flor, não seria mesmo cada pétala uma face de sua face?
E, sendo tigresa, não seria o preto e o dourado uma face de cada parte?
E, sendo mulher, não seria sempre uma avant-garde?


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Puseram a faca em meu peito

Hoje o dia foi de uma vida inteira de saudade.
De manhã, queria você antes do café. No café, te queria com pão, manteiga e suco de laranja a existir na sala como os raios de sol que aqueciam o espaço. Depois, no trabalho, te queria me tentando a não trabalhar ou a me ajudar para trabalhar mais rápido e termos mais tempo juntos. Terminei o trabalho e decidi sair para aproveitar o dia lindo de sol e ver um pouco de arte. E, ali, eu também te queria para fazer as piadas que só um kunstbanause como você pode fazer. E no fim desse dia longo, te vi em flashs luminosos. Podíamos falar de trivialidades como se o tempo e o espaço fossem nossos amigos. Agora já não te escuto, já não te vejo além das fotos que insistem em ficar no meu varal afetivo. Mas o dia ainda nem acabou de verdade. E a dor dessa saudade, dessa vontade amarga de te ter aqui e acolá, ainda está aqui.
4 meses e 14 dias no meu relógio.
O tempo só faz diluir você em quereres.