terça-feira, 4 de janeiro de 2022

desejo de brisa

faz tempo que não me sinto brisa

que não há uma parte que faz eu me sentir como pássaro planando no céu

ou como bolha de sabão

leve, colorida, inflada e prestes a estourar 

e virar milhares de gotículas


faz tempo que meu corpo não é abrigo

nem montanha russa

não causa frio na barriga em ninguém


que a minha boca não esboça sorriso bobo e sincero

com nenhuma mensagem tosca de remetente específico

e que nem se mordisca também

 

é com o outro que sinto e reconheço e vivo

aquela pulsão de vida que faz os pelos levantarem

que faz a carne arder tão intensamente que dá febre

que gera fomes insaciáveis

e sonos regeneradores

 

mas faz tempo

e eu só ando desejando

 

ser brisa leve 

de novo. 

Vem e vão...


 

E fora da pele, como você tá?

A gente olha a ferida e vê aquela casca sólida com uma pontinha se soltando. Pensa que ali debaixo as coisas já estão ok, que aquela casca dura e rugosa não é mais necessária. Aquela casca feia pode ser retirada.

A gente começa a cutucar na pontinha solta e vai puxando

puxando

puxando


até que a ferida volta a sangrar.

Merda!


Às vezes nem dói, às vezes sim. Mas fato é que aquela casca que a gente queria se livrar vai ter que se formar de novo, que a cicatrização estava ok só naquela pontinha.

Paciência...

 

E eu preferia que fosse uma casca epidérmica.