quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Limbo

A gente se perde. E como é fácil se perder?! Mas é uma perdição perigosa aquela dentro da sua zona de segurança. O limite é sempre fantasmagórico, assusta e é tentador ao mesmo tempo. Ah! E quantas descobertas se faz no limbo? Quantas almas se cruzam e se deixam em penúria e maledicência? E como as descobertas nos libertam e aprisionam?
Sinto meus pés escorregarem devagar no limo, o frio dali acalma o calor do corpo. Fecho os olhos e nada deixa de ser, mas ganha brilho de fantasia. Assopro e tudo vai sem onde, sem volta. A brisa adere aos meus poros e me embriaga leve, fácil e adorável. Faço destas asas a ponte para chegar perto e espiar o outro mundo, o céu e o inferno. Tudo estremece, balança, quase me leva, mas ainda estou no limbo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Quando o corpo pesa

Quando o corpo pesa a gente se pergunta por tudo que não fez na vida. Pelos sorrisos que não apareceram, pelo medo que não aterrorizou, pela ousadia esquecida, pela energia gasta em nada, pelos prazeres não gozados. Hoje meu corpo pesou sobre mim. Uma busca doída pela outra que não fui. Uma busca pela identidade que não construí. Uma inquietude que não encontra terreno e nem amparo.

Quando o corpo pesa a gente não se reconhece, nas roupas, na cara, nas coisas, nas escolhas. Como se de súbito a memória de uma vida inteira fosse papel branco translúcido fosco. E a gente se questiona entre isso ou aquilo sem querer considerar o que é melhor, só querendo provar disso e daquilo. E mais ainda, depois escolher aquilo outro.

Conte-me um segredo! A chave para que o peso caia de uma só vez. Num só estalo. Num só estrago. Se pudesse contar um segredo para alguém que me conhece, eu estaria irreconhecível, mascarada pela verdade. Porque meus segredos dizem de todo peso que meu corpo carrega, isto é, de tudo que não fui.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Quando a gente perde um amigo

Um dia ele foi meu porto seguro. Alguém em quem me espalhei. Compartilhamos momentos de pura intimidade, daqueles em que fraquezas, dores, alegrias, forças, esperanças etc. são compartilhadas, recebidas, amparadas. Dele recebi abraços tão fraternos... Lembro que uma vez tudo o que eu mais queria era um colo para me amparar e sem que eu dissesse nada ele percebeu algo, me puxou e me pôs em seu colo. Quizá, o melhor colo que já recebi na vida. Cheio de carinho e amor. Nossa amizade era assim, cheia de ternura, cuidado, risadas. O irmão mais velho que sempre quis ter.

Foi ele quem me acompanhou na matrícula na universidade, quem me apresentou o campus e suas peculiaridades, quem me ensinou dos perigos que ali habitavam. Ele estava ao meu lado num dos momentos em que mais tive medo. Dali pra frente, encontrá-lo naquele espaço era como me refugiar no mundo tão sensível em que vivíamos com nossos outros amigos e que aquele espaço feria a todo instante. Mas foi ali também que eu o perdi.

Lamento que ele tenha escolhido abandonar nossa relação pelos caprichos ou fraquezas de quem ele ama. Lamento que tenha feito isso sem olhar pra trás. Mas respeito sua decisão. Também já o perdoei. O que não significa que ainda não sinta a perda. O silêncio de cada 31 de janeiro dói muito.

Hoje, nos vemos uma vez por ano. Nesse único dia, ele é aquele cara que conheci, como se nada tivesse acontecido, como se o tempo tivesse sido congelado. Mas, a verdade é que o tempo não volta, não  congela e as feridas às vezes demoram muito a cicatrizar.

À memória de um porto.

Direito de resposta

Bem! O que posso dizer depois de palavras tão certeiras, de uma análise tão franca e tão certa que nem eu seria capaz de fazê-la?! Fico feliz que seus olhos me vejam com essa beleza, Ju! E é mesmo difícil dizer o que é isso que a gente tem, essa amizade. Gostamos de poucas coisas em comum. Você é um mulherão disfarçada de mocinha e eu essa mocinha se esforçando em ser mulher. Você é fã de muitas coisas, porque é intensa em tudo. E eu sou tão "livre" (pipa avoada) que não consigo me prender às coisas de que mais gosto, não sou fã de nada. "Ai! Seja mais passional Silvana!" - você esbraveja comigo. E eu te digo: "Ju, calma! Vamos analisar a situação.". Você é bem criteriosa na escolha (consciente) daqueles que chamará de amigos e eu... Bem! Para mim basta ser amigo de um amigo que já tem créditos. Por isso, você foi minha amiga antes mesmo de eu ser sua amiga. E não há nada de mal nisso! Assim, desse jeito confuso, controverso, ficamos amigas, somos amigas.

Nessas diferenças todas é que encontramos uma cumplicidade. É ela que nos une! Somos cúmplices dos comentários moralmente vistos como maldosos, mas eu e você nos reservamos o direito de não gostar de coisas e pessoas e expressar isso com todo o nosso sentimento verdadeiro. E isso é libertador! Somos cúmplices na abertura de espírito para as críticas uma da outra, mesmo que às vezes dói um pouquinho. Mas nos permitimos isso, porque sabemos ou intuimos que tal crítica vem de uma franqueza amiga, que também estará presente para amparar. Somos cúmplices na tolerância dos humores, nas variações que a convivência impõe. E até rimos muito disso! Somos cúmplices nas fraquezas uma da outra e encontramos aí um ponto de força para crescer. Somos doces e malvadas, melancólicas e alegres, solitárias e independentes, livres e com raízes. Aí reside nossas afinidades. E quem vê meu sorriso fácil e sua ironia simpática não imagina o quanto somos cúmplices e companheiras.

Obrigada pelo amor, amizade, respeito e cumplicidade! Eu gosto tanto de você, muito mais do falo, do que rio, do que escrevo.
Obrigada, Ju!