terça-feira, 15 de novembro de 2016

Ciranda da travessia

Eu te vejo, tu me vês
Eu te provoco, tu aceitas
Tu calas, eu espero
Eu insisto, tu te apresentas
Tu me provocas, eu aceito
Eu te encontro, tu me encontras
Nos tocamos, mas eu te atravesso

Eu sigo, tu segues
Tu me encontras, eu te encontro
Nos tocamos, mas tu me atravessas
Eu sigo, tu segues

Nos falamos, mas eu silencio
Tu me provocas, eu recuso
Tu te frustras, eu me (des) culpo
Tu silencia, eu falo
Tu calas, eu calo

Nós atravessamos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Das incertezas

Podia ser saudade que me bateu.
No contexto atual,
no caos social que a gente caminha,
saudade seria a coisa mais bonita e ordinária
que poderia bater em qualquer um.
Saudade da estabilidade das coisas ordinárias da vida.
Saudade dos dias iguais,
das quebras ritualísticas dos dias iguais.
Mas isso só seria possível se não fosse maior
o medo.
O medo é das criaturas que colocam qualquer Everest da vida
no chinelo.
Medo da chuva de meteoros de incertezas.
Incertezas quase certas.
Duras
de tão certas.
E, por isso,
hoje
o semblante me pesa
e a saudade é mera lembrança boa.