segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cuidado

Às vezes o que falta em você é o cuidado. Cuidado em considerar o outro, sua existência, seu espaço, seus processos íntimos, seus passos, seu recolhimento. Cuidado de não se manter à distância, mas justamente de se manter próximo apesar de e com todas essas considerações. E manter-se próximo não é o mesmo que adentrar, que sufocar e que se fazer presente a qualquer custo. Isto eu dispenso! Melhor a solidão, que sempre sabe o seu lugar.
Você me olha e não me vê.
Você me olha e vê seus medos.
Você me olha e vê seus desejos.
Você me olha e vê seus sonhos.
Mas não me vê...
E eu posso tocar e até atravessar seus medos, desejos e sonhos, mas não nos confunda; não sou nenhum deles! Então, me tenha com cuidado.
[Rachaduras são pequenas, mas não deixam de ser fraturas na estrutura.]

quarta-feira, 17 de julho de 2013

De um tempo em que aprendíamos a amar

Comecem com "Metade" e depois sigam para "Léo e Bia"!

O impreciso, que é o futuro

Eis-me aqui sofrendo pelo incerto, pelo inseguro, pelo medo da neblina do futuro. Justo eu que sempre soube ao menos o que não queria e que desvios eram necessários para evitar a infelicidade de ser. Encontro-me agora no branco, numa página inteira em branco, tentando reinventar-me mais uma vez.
E quantos soluços já me escapuliram? Quantas olhadelas para o chão dispensei? Quantas tentativas vãs de estar no eixo de novo? E quantos desejos emergiram de tanta coisa boa...
Saudade do que não vivi...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Presentinho Leminski de aniversário coletivo

Esse aqui eu ganhei de presente do aniversário da turma, em 2006. O olhar apurado de Iva caçou em Leminski meu anseio (de sempre).

"Sossegue coração
Ainda não é agora
A confusão prossegue
Sonhos afora
Calma, calma
Logo mais a gente goza
Perto do osso
A carne é mais gostosa."

E 2007 foi um ano e tanto...

Desabafinhos em folhas de um bloquinho (daqueles que não nos largam) que o vento trouxe e a finitude deixou guardado na caixa das lembranças.

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1.
Ousadia do simples me excita.
Criar o futuro sem pensar no que fazer é mais uma aventura que eu embarco.
O fim é inevitável, o caminho é escolha.
A vida perde graça se não há surpresas.
Qual será o próximo presente?

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2.
Minha vida está uma merda.
Merda de vida!
Nem o túnel do tempo seria capaz de mudar o que se sente hoje.
Sigo só no meu caminho procurando reencontrar-me e criar-me.
Merda de vida!
Nem a memória é capaz de recuperar o passado e dá-lo vida a ponto de se tornar presente.
Sigo num caminho que desconheço, ao qual todos são familiares e altamente estranhos.
Merda de vida!
Qual a minha turma?
Qual turma poderia ser minha?
O que faço com as ideias?
O que faço comigo?
Mais uma vez (e sempre) o incerto reina soberano.

ps.: saudade de mim.

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3.
Não tenho medo da morte!
tenho medo de morrer e não me despedir.
Não tenho medo de sofrer!
tenho medo da dor da perda; ela é a pior!
Agora, tenho medo de iniciar a rotina com o aviso de que um amigo não está mais no lugar em que deixei. De perceber que o vento o levará para longe.
Longe! O lugar em que não se sabe se existe de fato ou se não passa de um lugar no meio da sua fé.
E quando foi a última vez que nos falamos? Nem lembro...
Como dói!

Ao meu amigo virtual De Souza.

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4.
É a sinuca de bico de novo.
É o mundo dando voltas.
É o receio do suposto novo.
É a confusão que segue afora.
É a mesma pergunta de sempre: o que fazer?
É o medo de descobrir o que já se sabe.
É o desejo de não existir.
É a dúvida de saber se o melhor caminho é você!
O melhor caminho sou eu?
Que saudade do bom, do diferente, do compreensível, do mágico.
Ser raptada pela lembrança e se perder no passado é o desejo perigoso que se tem.
Por que fugir?
Medo? Covardia?
Destino? É o J quem diz!
E o A, B, C...? E o S?
Inquietação!

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5.
Minha terra não dá amores.
Minha primavera depende da beleza de outras flores.
Conto apenas com a sorte do vento, que me traz e depois leva todos os meus prazeres.
A memória é companheira.
A saudade é carrasca.
Vivo como quem caça vagalumes...
Pura poesia! Pura angústia!

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6.
Pinga, ácida, sobre a armadura que a saudade me colocou, uma ansiedade.
Corrói a dor da distância e deixa em carne viva a felicidade de amar.
[A liberdade é meu caminho e o amor o meu cantar. Podem prender o passarinho, mas nunca me impedirão de amar.]

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7.
Desejo que você tente me engolir.
Assim, seca!
Rasgando a garganta com a aspereza do meu ser, amargando a boca com o fel da minha liberdade.
Desejo que sua consciência provoque uma indigestão e que você vomite toda a sua hipocrisia, sua amargura, sua ingenuidade de quem não vive, mas passa pela vida.
Porque eu sou alimento para não engolir, para não comer.
Sou para alimentar a alma de grandes e não de pequenos. Porque em pequenez de coração não cabe a vida.

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8.
Quisera eu ser a senhora do tempo para realizar os caprichos do amor, para me perder em divina felicidade.

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9.
Doeu e ainda dói.
Mas sofrer é um velho esporte que meu coração pratica.
Não é a primeira e nem será a última.
Para guerreiros, uma boa luta é sempre bem-vinda.
O que sou senão uma guerreira?!

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10.
Prefiro uma verdade que me caia como um tapa na cara do que uma mentira que me venha como uma rasteira.
Covardia sempre requer uma boa dose de egoísmo e de sacrifício do outro.



domingo, 7 de julho de 2013

Não amar é (ou, "quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau?)

Quem tem medo do amor? Ele é indelicado sim, extravagante, exagerado, egoísta... Cavalo sem rédeas! Mas e daí? Não amar é tão pior que tudo. Ah! Não me venha com essa de sofrer?! Um monte de coisas te fazem sofrer, até mais do que o amor... (Esse medo de amar, por exemplo!) Mas poucas coisas, pra não dizer só ele, nos deixam aquelas lembranças. Aquelas que dão ar de bobice na cara, que solicitam sorriso de canto de boca, que sacam suspiros, que mordem os lábios, que reviram olhos, que vibram ares nostálgicos. E como a vida passa e o tempo é senhor de todas as coisas, não são essas lembranças que nos compõem? Não amar é tão pior que tudo... Não amar é vazio, é frio, é deselegante, é aterrador, é solitário, é egocêntrico, é pequeno. Pedras não amam! Galhos também não. E que vida tem graça de ser contada sem amor?
E se não existisse amor na Terra haveria apenas mecânica! É, mecânica! Máquinas não amam. Movimentos mecânicos funcionam por força, nós funcionaríamos por força. E só pararíamos por desgaste, falta de óleo. E nenhum parafuso chora pela rosca cega de sua porca. Nenhuma engrenagem se arrepia por se encaixar no outro, apenas segue encaixando. Máquinas apenas seguem seus movimentos próprios.
Pra que querer ser máquina quando se pode ser só poesia?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ridicularia

As últimas semanas foram de tufões. Daqueles que arrastam a casa inteira e te transportam para outro mundo. É difícil escrever quando estamos tão perdidos. Não escrevi. Escrevo agora porque preciso respirar de novo. E essas letras rasas são um desabafo, puro, simples e pesado.
Sofri para ignorar as primeiras movimentações de luta. Sofri para decidir embarcar nelas. Sofri por estar nelas. Sofri para tentar contribuir. Sofri ao ver tantos erros repetidos, tantos discursos enlatados, tanta cegueira quando era crucial sermos lúcidos. Sofri pelo luto equivocado, vazio e de aparências. Sofro para largar tudo isso que remexe no meu passado, nos meus sonhos, na minha visão de mundo, no meu presente e no meu futuro.  E como dói cada parte desse processo...
Preciso seguir em frente, preciso seguir.
E Lima Barreto foi evocado para lembrarmos de que "a vida é uma ridicularia" e nos deixar sem resposta lógica, óbvia, leve sobre "o que é que enferruja tanto a nossa alma". Podia ser só espuma, mas que oleosa é essa vida?!