sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Dias chuvosos sempre me inspiram melancolia...
E como não ser? Alguma coisa sempre escorre com a chuva.

Dentre tantas perdidas palavras

No caos me refaço entre palavras perdidas, avulsas, costuradas.
Faz parte de quem sou.
Do esforço de ser sempre construção, sempre novo e entulho.
Traduzir-me é um equívoco que só tolos se aventuram.
Nada do que digo pode fazer qualquer sentido fiel fora de seu momento.
O melhor a se fazer é dar novo sentido as palavras, é recriá-las nos olhos de quem lê.
Da tormenta é que nasce a poesia.
E o conhecimento só pode ser vivo se for sensível.

sábado, 6 de agosto de 2011

De quem falo

Sentia-se estranha em relação a si mesma. Era outra e a mesma. Sentia enorme sede de paixão e criava em seu íntimo uma mulher mais liberta, mais safada e mais livre. Uma mulher mais apaixonada. Capaz de se entregar a tudo e a todos sem ter medo de não ser compreendida, pois sabe que apenas alguns podem se dar ao luxo da entrega.
No mundo real via-se presa a um mundo de que amava: boemia, sediciosas experiências e muita meia luz. Sentia-se excitada, extremamente excitada. E podia até se elevar ao gozo com isso. Mas, na verdade no tempo de seus delírios de mulher estava mesmo era solitária. E só poderia estar. Não realizando cada desejo íntimo que sentia, não podia sentir-se parte de nada. E, realizando-os só poderia sentir-se apontada pelas vidas alheias.
Conseguiria, pois, encontrar seu lugar? Amava a si mesma por não sentir naquele instante, o fogo por outrem. Ao mesmo tempo, queimava ninfas e elfos no fogo de seu prazer. E fantasia e realidade bailavam na dialética melodia.
Sentiu seu corpo retorcer e esvair-se... Mais uma noite de pura solidão.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Bicho de 7 cabeças

Porque nada do que sou vem sem dor.
Porque a vida nunca foi generosa sem cobrar as contas.
Dor constitutiva de cada parte solta de mim costurada sem anestesia.
Tanta dor porque só se pode amar assim.
Só há entrega com riscos.
Da liberdade inigualável de sentir do cair do precipício
à queda, ao silêncio, ao sangue que escorre como melodia.
Encontre-me sem medo,
pois sou o que desejas ser.
Morte inexorável de uma vida que não pode ser mais do que é.