sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Eu passo...

Essa não é uma carta de despedida. Embora carregue consigo um lamento.
É uma carta de justificativa de um bater de asas e também de uma esperança que fica.
Estou partindo de seu corpo, que é a sua casa.
Não me tenha mal, só preciso partir. Passarinho só canta fora da gaiola e essa hospedagem já me tinha.
Mas fica a esperança do regresso, do reencontro, do toque, do contato.
Fica também a emoção da estadia, na mala, na sala.
Pode deixar que eu mesma fecho a porta.
Levo comigo o sorriso de canto de boca, estampado na face de uma nudez limpa.
E se ainda couber um pedido que as janelas fiquem sempre abertas.


domingo, 26 de agosto de 2012

Passagem, por Vinicius

Do vento que me leva

Oh, quem és tu que me toma pelo avesso em meio a manada?
Espreme, pressiona até fazer de mim dor e alívio.
Desaparece e me anima como a alma dá vida a cousa qualquer.
Escorre salgado e deixa rastro esbranquiçado para se mostrar.
E de tudo em que me aflige, a sede que me causa é a maior angústia.
És duo.
Entre e tanto, a ti basta um.
E eis que sou sempre e até quando quiseres.
Amor.

Líbero

Era lindo o dia de sol forte e céu claro.
Eu, perdida em meio ao caos vi um pássaro voar baixo.
Voo leve e fugaz...
Lindo.
...Pisquei.
Era folha de jornal que num momento sublime de clímax intenso com o vento, se fez pássaro.
...
Ai de mim (!), se não fosse em algum momento também pássaro.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cisne negro

Hoje senti o peso de mim esmagando-me.
Nesse labirinto sem fim que sou, descobri a mim em outro tom.
Só, intensa, talvez covarde, talvez corajosa, entregue, eu sou passagem!
Encontro nos outros um pouso que me pertença e que me deixo um pouco, mas sempre estou de partida.
Não quero magoar e nem ser mal agradecida.
Só que o céu me chama sempre e o anseio por novas entregas me seduz irresistivelmente como o canto das sereias.
Eu que me crera pouso de tantos andarilhos, me descobri como passagem.
E isso, apesar de tantas delícias que me deu, agora pesa em maciço sofrimento.
Santa dos viajantes solitários é a mais solitária (e perdida) de todos os viajantes.