quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Desabafo de um dia que não lembro exatamente qual foi

Altura

Tento não desesperar,
mas a espera por consequências boas de esforços tão espremidos é cada vez mais sufocante
conforme o vento sopra a areia.
O tempo se vai leve e serelepe
como se dele nada dependesse.
Tento buscar a confiança de que serei melhor apesar dos dias ruins. E escondo a palidez do medo com batom vermelho e um estalar de lábios que não se cansam de falar.
Recomeçar é procurar chão quando não dá altura.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Quando páscoa e carnaval são uma coisa só

31 chegou. Abri os olhos e respirei fundo. Algo começava a doer. Já tinham 3 mensagens a minha espera. Li-as com os olhos afogados já. Senti como se eu fosse uma bexiga d'água pressionada prestes a romper. Sufoco. Tentava respirar. Pedi socorro. A dor parecia insuperável, insuportável. Me senti em frangalhos. Eu era só cacos. E tudo isso antes das 7:30 da manhã.

Recebi ajuda. Respirei fundo várias vezes. Me juntaram e fui à praia entregar minhas energias ao sol e ao mar. Eles sempre tiveram um efeito restaurador sobre mim. Há algo de calmaria no canto das ondas, na brisa que beija a gente e alivia o abraço do calor. O vento foi trazendo ao longo do dia carinho de vários lugares. Voltei pra casa. Tomei banho e me arrumei. Já tinha vontade de estar bonita. Fui jantar com 3 grandes amigas, num dos meus sabores preferidos da cidade. Nos divertimos com nossa pobreza. Comemos apenas para presentear nosso paladar. Era suficiente pra dar gosto ao dia. Voltamos pra minha casa.

Eu fui a primeira a entrar porque estava com a chave de casa. No breve corredor, vi papéis coloridos e reluzentes em frangalhos. No alto do batente da entrada para a sala havia um cacho de bolas com cachos de papéis azuis. A sala era escura, silenciosa e normal. Meu cérebro bugou por um instante. Um coro meio descoordenado irrompeu o silêncio e a escuridão. Tudo fez sentido. Tudo foi sentido. A maior surpresa. Eu, estupefata, não chorei. Isso por si só é uma surpresa das grandes.

Tinha tudo. Tinha amigas e amigos. Tinha família. Tinha crianças correndo pela casa e jogando papéis em frangalhos para todos os lados, especialmente na minha cabeça. Tinha bolo. Tinha painel decorativo. Tinha bolas. Tinha churrasco (meu pai sempre dando um jeito de garantir o churrasco nosso de cada dia). Tinha risos. Tinha inúmeras histórias de como aquilo tudo se fez. Tinha o alívio de todas as apreensões e expectativas. Tinha cachorro quente. Tinha decoração sobre o mar. Tinha presentinho, abraços e beijos. Tinha cartão (lindo). Tinha presença dos que estavam longe (um dos melhores presentes) e, por isso, teve choro também. Ah, não tinha vela... Espera, tinha vela de igreja, de quando falta luz, de quando a gente acende uma chama para fazer um pedido por alguém que foi para algum lugar (ou lugar nenhum). Serviu. Tinha amor, muito amor.

E foi assim que 31 no 31 se tornou quase uma páscoa pessoal. Juntaram todos os cacos quebrados daquela manhã, colaram, passaram pintura nova e fizeram de mim um vaso novo. A gente não é nada sozinho; a gente não é nada vazio.

Tem amor, muito amor.