quarta-feira, 13 de julho de 2016

Quando a gente perde outro amigo...

Ontem recebi um email de você e ele quase foi para a lixeira junto com outros emails comerciais. Eu tive que pensar por um momento que conhecia aquele nome, que eu conhecia aquela pessoa. Foi por pouco, mas teu email ficou a salvo. Mas isso não muda o fato de que você se foi, de que nossa amizade não está a salvo em nenhum lugar. E você não é uma pessoa qualquer, você não é só um amigo. Você era um dos melhores.

A primeira vez que perdi um amigo, desses que são grandes na nossa vida, foi uma perda passiva. Eu não gritei, nem esperneei, não o confrontei. Sofri calada durante anos, falei na terapia para só então em um dia poder falar cara a cara o quanto me doeu ser intencionalmente deixada de lado, o quanto ele era importante na minha vida e o quanto lamento que nossa amizade tenha terminado com a escolha dele, daquele jeito. Que no final, foi um jeito covarde. Que ele não teve a coragem de dizer pra mim "meu novo amor se sente ameaçado por você e por isso estou deixando nossa amizade". E essa covardia foi o que tornou tudo pior porque como éramos amigos eu poderia ter entendido a decisão e poderia ter doído menos.

Quando comecei a perceber que perdia você, decidi fazer diferente. Eu fui até você, falei, chorei, esperneei... Você disse que não era proposital, que passou por muitas dificuldades que sentia vergonha de compartilhar comigo, que tinha encontrado um alguém que o ajudou e o amava. Sobretudo, você disse que não estava largando a nossa amizade, mas que só precisou de um tempo e que já sabia que era hora de voltar. Eu acreditei. E, no fundo, bem lá no fundo, uma parte de mim ainda tem alguma esperança de que isso seja verdade. De que haverá de novo um tempo em que compartilharemos os prazeres e as desventuras de nossas vidas um com o outro. Que você será de novo uma referência para quem quiser saber de mim e vice versa. Mas meu coração sempre se enche de esperanças vãs.

O que aconteceu depois que conversamos é que você se tornou um amigo virtual, quase um fantasma. Hoje eu tenho mais contato com ex-namorados do que com você. E esse tempo de amizade virtual já faz um ano. E o tempo que você já não está mais comigo e com os nossos outros amigos já faz 3 anos. E, apesar de todo esse tempo, eu demorei para entender que você realmente estava partindo. Demorei para entender que as tuas palavras foram folhas ao vento. Só agora, em que você esteve ausente em mais um aniversário, eu me dei conta. Porque ambos vínhamos tratando essas ausências como incompatibilidade de tempo, de agendas. Mas, só agora, eu me dei conta de que nunca houve incompatibilidade de tempo antes, como agora, porque nós nos reservávamos as datas dos nossos aniversários para estarmos juntos, comemorando juntos. Ninguém marcava nada no dia do aniversário do outro antes de saber o que teria naquele dia. Nossos aniversários eram um evento marcado de antemão em nossas agendas. Quando percebi isso, fiquei zonza, minha cabeça girou. Para dizer o mínimo. E me senti como numa dessas cenas de filmes em que alguém é golpeado e só se dá conta disso quando o sangue vai lentamente se espalhando pelo tecido da roupa e a expressão vai mudando para uma expressão de dor. Foi tão rápido que eu não percebi quando exatamente aconteceu, quando perdi outro amigo.

Agora, eu escrevo em parte para aceitar esse fato, em parte para protestar, para gritar, para espernear... "Não vai, por favor!". Porque ainda dá tempo de voltar. Não posso falar pelos nossos outros amigos, mas para mim ainda dá. Você não precisa abdicar do seu mundo para amar alguém. Amar alguém não é o mesmo que se deixar pelo caminho e virar alguém novo. Não é!

A primeira vez que eu perdi um amigo, ele sabia exatamente que era uma escolha dele. Ele não podia admitir para mim naquele momento, mas ele tinha claro que era uma escolha dele. Eu espero apenas que você se dispa dessa ingenuidade que atrela a tua ausência com incompatibilidades de agendas, preguiça, caminho longo ou qualquer outra desculpa que você dá a si mesmo e a gente. Porque você escolheu viver uma vida diferente da que tinha antes e você escolheu quem participa dela. Espero que você possa assumir a tua escolha e não ser covarde. Porque essa covardia faz doer, ela alimenta esperanças, mesmo aquelas lá do fundo.