terça-feira, 27 de junho de 2017

Ainda você

O que a gente faz depois de um grande amor? Depois do melhor amor?
Sigo em frente sem saber ao certo se ele se transformou num fantasma ou se ainda é só o amor pulsando aqui, apesar dos 15 meses passados.
Ele evocava o melhor de mim.
Eu me sentia completa porque sentia que podia ser eu plenamente, sem censuras, sem esconderijos, sem silêncios.
"O que vocês tem é muito bonito. Do tipo de amor que a gente fica admirando." - as amigas me dizem.
Sentada aqui, agora, escrevendo, ao meu redor você está presente.

Schön, dass es dich gibt!

terça-feira, 20 de junho de 2017

Mudança, outra vez

A lembrança mais remota de desejar ter um lugar pra mim faz parte da minha primeira infância. A casa em que eu vivia tinha 3 quartos. Um grande, um médio e um pequeno. O médio era o quarto dos meus pais. Nele tinha uma cama de casal, um guarda-roupa e um berço. No quarto grande, lembro de ter quase nada. Uma máquina de costura em algum tempo, uma cama onde eu dormia e presumo que tinha outra cama também em algum tempo em que meu tio morou com a gente. Acho que ele não tinha porta, talvez por isso os meus pais não o usassem. Lembro de achá-lo escuro, melhor dizendo de um imenso vazio escuro. Ele tinha uma janela de madeira que dava para o muro alto da vila. Então, de fato a vista era para o beco, onde no fundo alguns morcegos faziam moradia. A melhor lembrança que tenho daquele quarto foi de um natal em que coloquei na janela um All Star botinha que eu tinha. O quarto menor era a oficina do meu pai. Ele era um quarto estreito, talvez com 2m de largura. Ele ficava na parte da frente da casa. Tinha uma janela grande de vidro. Ele era o ponto de luz da casa. Às vezes, eu ficava olhando pra ele e namorando aquele lugar. Pensava que poderia ser o meu quarto. Que eu não me importava nenhum um tico de ser pequeno, que estaria feliz se pudesse ter um espaço pra mim ali.
Até os meus 28 anos, eu nunca tinha tido um quarto só meu. Eu cresci com uma irmã e um irmão. Duas meninas deviam dividir o mesmo quarto porque menino não pode dormir no mesmo lugar que menina. Eu sou a mais velha. Cresci aprendendo a cuidar dos outros, a me colocar sempre atenta e disponível. Cresci aprendendo que devia dar conta sozinha das minhas questões porque não havia espaço para elas. Quando me sentia triste, eu ia para o banheiro e chorava no chuveiro. Escrevia em diários ou agendas de forma poética para que ninguém desvendasse o meu íntimo. Quando adolescente, às vezes trepava na grade da janela e subia na laje para ficar só comigo mesma e meus pensamentos. Lá em cima, à vista de todos, ninguém podia me ver de verdade. Eu podia ser só eu, sem brigar por isso.
Talvez a minha busca por um lugar só meu tenha sido na verdade a busca por um lugar em que eu pudesse ser, sem lutar por isso. Hoje, em que estou em vias de voltar a morar com a minha família, talvez o mais assustador seja perder esse lugar abstrato e ainda assim tão concreto, que é a liberdade de ser. Foi tão difícil até aqui.

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Essa será a minha 9ª mudança. Dessa vez, terei um quarto meu. Já faz dois meses que estou "construindo" esse quarto. Estou cansada. Também estou sentindo aos poucos o ritmo que a casa tem agora. Meus sobrinhos estão ansiosos e felizes que vou morar lá. Já sinto coisas que me incomodam e coisas de que gosto também. Já perdi o medo de a volta significar prisão. Já entendi que as minhas conquistas vão comigo e que talvez essa mudança, essa espécie de estaca 0 com upgrade, signifique o começo de um novo caminho. Já faz tempo que ando fechando coisas e abrindo outras. Essa é só mais uma.


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Se tudo der certo, domingo eu volto. Não sei como será. Não sei como serei. Sei só quem eu me tornei até aqui.