segunda-feira, 26 de maio de 2014

Rascunhos de romance


 I. O silêncio dos olhos

Falavam-se com a frequência que a vida do dia a dia e a saudade permitia. Às vezes se viam por alguns minutos, às vezes por horas. O tempo ainda não passara forte como vento que enverga os galhos das árvores e por isso o querer ainda era tudo o que existia ali. Destes encontros colhiam-se sorrisos, meninices, meiguices e algumas fantasias, nem sempre doces nem sempre ardidas. Sobretudo, tudo era leve e fugaz como bolha de sabão. Um suspense infinito até a explosão de todas aquelas cores que bailam no ar.

A distância de vidro que os separavam se fizera no instante em que se conheceram. O caminho em que se cruzaram era o mesmo que os levavam para direções diferentes. Talvez isto, o brilho da passagem ou a incompletude do encontro tornara tudo tão intenso, tão singular. O acaso faz mesmo tudo ser mágico. E era esta magia que encobria os sentimentos que se armaram como chuva de verão naquele sete de setembro.

Mas estas são informações para que você, leitor, não se encontre perdido naquilo que me interessa contar. Interessa-me que saibas sobre o silêncio que imperava alguns segundos naquelas conversas, naqueles encontros. Havia momentos intensos em que tudo silenciava para que os olhos pudessem dar liberdade para aqueles desejos e sentimentos profundos de que a gente tem medo de pronunciar. Porque uma vez pronunciados em voz alta é preciso ter culhões para dar-lhes consequência. No silêncio dos olhos não. Fica tudo como uma partilha de segredo cochichado ao pé do ouvido enquanto se escondem embaixo da mesa ou de baixo do lençol. Ou como murmúrio de sono que acompanha o abraço de conchinha.

E aquele tempo de silêncio era como um balde de eternidade fria, gelada de doer os ossos. Não houve nenhum outro momento entre os dois em que se disse tanto do que existia ali. No silêncio dos olhos se amavam imensamente.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Saudade seca

Não vem com desejos dos tempos de outrora,
nem com a fina melodia da melancolia.
Tampouco se apresenta com ares de nostalgia.
É como pinga boa,
forte, de um amargo seco e um
calor que queima as tripas.
Não vem cheia de lembranças e lamento.
É a falta mais pura,
mais grosseira,
mais dura.
É a falta de um braço que não existe mais.
Saudade seca é o vazio
que habita um corpo mutilado.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Engasgo

Tusso, tusso, tusso
e não me passa esse engasgo
de palavras para nomear o que sinto,
o que me toma.
A possibilidade de me sufocar, me apavora.
Engasgar é pura angústia.

Felicidade

Porque tanta gente andou me perguntando por felicidade:


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Surpresa

Em dias cinzentos uma borboleta pode passar e te fazer sorrir.
Em dias de sol, a gente também pode se deparar com uma baita careta e com isso, sorrir.
Pequenas surpresas que fazem a alma dançar...