sábado, 19 de outubro de 2013

Sorvo*

Eu quero a vida.
Por baixo da pele que acaricio com minha língua branda e rude, grossa e suave, a pele que faço recuar e expor a carne.
E é a carne rubra, pulsante e viva que eu encarcero em minha boca, enlaço com minha língua ardilosa, provoco com meus lábios sem feri-la com meus dentes, de novo e de novo.
Bálsamo danador.
Eu a desvelo, eu a provoco, e a tento até que ela me entrega seu segredo em um jorro de calor que sorvo, voraz.
Que seja maculado meu sangue.
Que seja maculada minha própria carne.
Eu quero a vida além da pele.
Desmascarada.
Verdadeira.

Sem culpa. Sem medo.
Fogo e enxofre não me assustam.


*Poema retirado do livro Noturna e outras poemas, do meu queridíssimo amigo Cláudio Duffrayer.

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