quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Árvores tortas

Alguém por aí me contou um sonho. Nele, uma árvore que na realidade é torta e o incomoda, estava reta tanto quanto uma árvore pode ser. Quando ele me contou o sonho respondi prontamente que ele podia ver beleza no fato da árvore se erguer na direção improvável. Ele respondeu prontamente que isso era uma possibilidade, mas que podia pensar também sobre a necessidade de se atribuir um sentido naquilo tudo. Calei.

Vivendo a vida, comecei a reparar nas árvores. Diabos! Vivemos numa floresta urbana de árvores tortas. Tanto que comecei a me questionar se existia de fato árvores retas. Aí depois lembrei de pinheiros, araucárias, palmeiras e outras que não sei o nome. Mas achei mesmo que elas, na verdade, não são a regra. Mas esse mundo é tão vasto e minhas pernas são tão curtas...

Quando calei, pensei que eu era mesmo uma árvore torta, se erguendo na direção improvável. Pensei que ele, na verdade, também. E fiquei me perguntando o quanto é difícil às vezes aceitar quem a gente é e se permitir ver beleza nisso. Passei a maior parte da vida querendo ser mais alta, mais gorda, mais extrovertida, mais transparente, mais valentona, mais bonita, mais independente, mais mulher. E independente de tantos desejos sobre que direções eu gostaria de me erguer, me ergui atravessando todos esses desejos. De fato, sou uma árvore tortíssima! E, ainda hj, às vezes desejo ser menos torta. Mas tenho a impressão que seria infeliz.

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